domingo, 28 de dezembro de 2008

Da Vida...

E ser quando não ser... sendo...
- Você viu a abertura das corolas ontem nos prados caminhados?
- Estava morto eu ontem, um defunto esperando o cortejo, os girassóis me deixam tristes!
Um homem parou frente a vida e lá ficou até o fim, e o fim não acompanhou... A história de todos nós sempre pela metade, nunca o desfecho, as cortinas quem solta são os outros... e o que ficará?
- Estava frio ontem, resolvi fazer um chá de maça com canela, cobri-me com um cobertor quentinho frente à lareira de pedra... O chá na xícara de porcelana herdado de minha avó... uma linda toalha de linho bordada com esmero paciencioso pelas frágeis mãos do passado de mim... Hoje tudo é mais saudoso e vivo disto e daquilo que me forma, das cores da lua, das cores do jardim, das incolores das estações, da paisagem...
- Eu não queria ter dito o que disse, mas já que disse...
(lágrimas escorregam – um senhor sentado em sua macia cama segura uma fotografia borrada pelo tempo – a borrasca começou...)
- Lá no alto da montanha, uma casinha espera seu dono; ele chega a pé, segurando 84 velhos calendários...
(uma pétala flana nos ares e é levada ao mar que se abre frente aos meus olhos em lágrimas)
- Tomemos café, comamos bolo, aplaudamos a vida, sucumbamo-nos a vida!
Um garotinho senta-se no banco de uma praça, segura um balão, e nada vê na vida...
Um senhorzinho senta-se no banco de uma praça, ao lado de um garotinho; observa o garoto, o balão e chora – ele viu a vida...

Gustavo Pilizari

sábado, 18 de outubro de 2008

"Tudo o que é sólido se desmancha no ar."
K. Marx



Resumo: O presente trabalho é exposição analítica sobre o texto de Marx, “Salário, preço e lucro’’, que se encontra na coleção “Os Pensadores”.
A realização da exposição dos argumentos, por ser analítica, seguirá o que BLOOM (1971:121) propõe como análise de obra, qual seja: Identificação e classificação dos elementos; explicitação das relações entre tais elementos e reconhecimento dos princípios de organização.

Introdução.
O analisado texto de Marx se divide da seguinte forma:
*Oferta e procura;
*Salários e preços;
*Valor e trabalho;
*Força de Trabalho;
*A produção da mais-valia;
*O valor do trabalho;
*As diversas partes em que se divide a mais-valia;
*A relação geral entre salários, lucros e preços;
*Casos principais de luta pelo aumento de salários ou contra sua redução;
*A luta entre o capital e o trabalho e seus resultados;
Notas.
A respeito das 34 notas apresentadas ao longo do texto, não consta ser nenhum feita pelo próprio Marx, sendo, pois, notas do editor e do tradutor.
Conceitos.
Os conceitos mais apresentados, e mais significantes no entendimento da obra, são os seguintes:
*Trabalho;
*Mercadoria
*Mais-valia;
*Oferta e procura;
*Preço;
*Valor;
*Salários;
*Lucro.


“Salário, Preço e Lucro” : Análise dos argumentos.
Ao adentrar o capítulo intitulado “Oferta e Procura” temos no primeiro parágrafo a afirmação feita por Weston de que “a redução dos meios de pagamento resultante de um aumento dos salários, determinaria uma diminuição do capital” (p.70).
Marx faz objeções ao argumento de Weston, as quais serão dispostas em várias partes do texto, a fim não só de elucidar os problemas, como também de contra-argumentar o que afirmar o “cidadão Weston”.
Ainda neste capítulo temos, no segundo parágrafo, o levantamento de um problema sobre a questão do salário baixo e alto, expressão esta que só faz sentido mediante uma comparação, e para tanto o exemplo dado é o de um termômetro, por este apresentar variações, ora estando o mercúrio baixo, ora alto.
Seguindo na leitura vemos o conceito da oferta e da procura , importante para o entendimento do que se discuti na obra, mas que por enquanto será apenas citado, seguindo de uma ponderação dada no próprio texto


“[...] poderá dizer-me por que se paga uma determinada soma de dinheiro por uma determinada quantidade de trabalho. Se me contestasse que isto ocorre por conta da lei da oferta e da procura, eu lhe pediria, antes de mais nada, que me dissesse qual a lei que, por sua vez, regula a da oferta e da procura” (p.70)


A abertura do capítulo “Salários e preços” reduz a uma expressão teórica a afirmação de Weston, que se traduz num dogma “Os preções das mercadorias são determinados ou regulados pelos salários” (p.71).
Marx demonstra que esta afirmativa de Weston equivale à outra, a de que “o valor das mercadorias é determinado pelo valor do trabalho”. Esta afirmação, ou dogma, como fora expresso acima, não responde a questão de como se determina o valor do trabalho, e se responde é mero círculo vicioso, como aponta o filósofo - em outras palavras, uma falácia do tipo petitio pincipii , pois equivale dizer “o valor se determina pelo valor” (p.73).
O capítulo é encerrado dando crédito a Adam Smith, por este ter rechaçado a falácia “os salários determinarem os preços”.
Dito isso, a questão da mercadoria começa a ser aprofundada. Segue a argumentação de que as mercadorias assumem o caráter de troca.
Ora, falar de valor de uso é o mesmo que conceber um trabalho concreto, ou seja, “eu produzo para o meu próprio consumo”. Entretanto, ao adentrarmos o cerne da questão da troca, já não mais é dito trabalho concreto, e sim abstrato.
Marx parte a procura de entender qual seria o valor da mercadoria, e como se daria este valor, de tal modo a possibilitar a troca de uma mercadoria por outra.
Para esclarecer o alvo da discussão basta o exemplo: De um quilo de batata sendo trocado por dois de açúcar.
Um passo na resolução do impasse é dado no quinto parágrafo do sexto capítulo, onde encontramos a explanação de que “cada um destes dois objetos [no exemplo dado a batata e o açúcar] deve poder reduzir-se, independentemente um do outro, àquela terceira coisa, que é medida de ambos [terceira coisa: não é nem batata, nem açúcar]” (p.74)
A questão reside, ainda, no problema da troca, que mesmo apresentando como resposta a questão da ‘’terceira coisa’’, é necessário que entendamos que a troca das mercadorias não passam de funções sociais, e nada têm a ver com suas propriedades naturais, devemos antes de mais nada perguntar: Qual é a substância social comum a todas as mercadorias? A resposta será o : trabalho (grifo nosso).
Em outras palavras, o trabalho social é a substância comum a todas as mercadorias, já que para produzir uma mercadoria tem-se que incorporar a ela uma determinada quantidade de trabalho. Nesse aspecto, o que distingue uma mercadoria de outra não é senão a quantidade de trabalho, maior ou menor, nelas cristalizado; quantidade de trabalho que se mede pelo tempo que dura o trabalho. "Portanto - dizia Marx - os valores relativos das mercadorias se determinam pelas correspondentes quantidades ou somas de trabalho investidas, realizadas, plasmadas nelas".
No décimo parágrafo do sexto capítulo [Valor e Trabalho], citando um ensaio de Benjamim Franklin temos o desenvolvimento de outro argumento, que será fortemente sustentando por uma frase, da página seguinte [76]. O argumento versa sobre a diferença entre preço e valor, para tanto o próprio Marx afirma:


“A determinação dos valores das mercadorias pelas quantidades relativas de trabalho nelas plasmado difere, como se vê, radicalmente, do método tautológico da determinação dos valores das mercadorias pelo valor do trabalho, ou seja, pelos salários” (p.76)


Com isso, deve-se verificar o valor que esta mercadoria tem, dentro de um contexto social, e isso pode não ter elação com o preço que ela terá no mercado, pois este é regido, dentro do capitalismo, pelas flutuações proporcionadas pela lei da oferta e da procura.
Nas duas seguintes páginas [77-8] Marx abordará a idéia do tempo com relação ao trabalho, para tanto um exemplo seria de eficácia para explicar o que se explana nesta referidas páginas.
Suposto que um tecelão demorava 8 horas para a produção de um metro de tecido.
Com a chegada da fábrica, a mesma produzia um metro de tecido em apenas uma hora.
Logo, sua mercadoria era mais barata, levando os tecelões a falência, e estes, por sua vez, virariam mão de obra barata nas indústrias, dando mais lucro ao capitalista.
Fiquemos com a clara afirmação: “Os valores das mercadorias estão na razão direta do tempo de trabalho invertido em sua produção e na razão inversa das forças produtivas de trabalho” (p78)
Nesse ponto o raciocínio de Marx deparava-se com a seguinte questão: de onde provinha mesmo o lucro? Se uma mercadoria é vendida pelo seu valor, a força de trabalho, que é uma mercadoria, também é vendida pelo seu valor . E esse valor é determinado, como vimos, pelo tempo de trabalho necessário para produzir a mercadoria. Então o valor da força de trabalho é determinado pelo tempo necessário à sua conservação e reprodução, ou seja, "pelo valor dos artigos de primeira necessidade exigidos para produzir, desenvolver, manter e perpetuar a força de trabalho.” Aparentemente, toda a força de trabalho que o operário despendeu é remunerada pelo patrão ao final de uma semana, por exemplo. Mas essa é uma aparência enganadora, pois o capitalista, ao comprar a mercadoria força de trabalho, passa a ter direito de servir-se dela fazendo-a funcionar durante todo o dia, sucessivamente. E aqui é preciso entender que o valor da força de trabalho é completamente distinto de seu funcionamento.
Nas páginas que seguem, ou seja, da página 80 até metade da página 94, Marx tratará da força de trabalho enquanto mercadoria, como também da mais-valia e da parte não remunerada da mercadoria. Entretanto, é necessário entender que o papel do filósofo, ao apresentar todos os aspectos abordados até aqui foi para entender de onde provem este lucro dentro da sociedade capitalista.


“O valor da força de trabalho se determina pela quantidade de trabalho necessário para a sua conservação, ou reprodução, mas o uso desta força só é limitado pela energia vital e a força física do operário. O valor diário ou semanal da força de trabalho difere completamente do funcionamento diário ou semanal desta mesma força de trabalho; são duas coisas completamente distintas, como a ração consumida por um cavalo e o tempo em que este pode carregar o cavaleiro.” (p.83)


Vemos é a ilusão do trabalhador de, por exemplo, trabalhar 12 horas, e achar que está recebendo por todas estas horas trabalhada. Na verdade o trabalhador esta, durante este montante de horas, gerando lucro para o capitalista.
A força de trabalho do operário, vendida ao capitalista, incorpora-se a um produto que se vende no mercado por um valor superior a seu custo de produção. A diferença entre o valor final do produto e o custo de produção constitui a mais-valia, o excedente ou valor acrescentado pelo trabalho. O custo de produção é a soma do valor dos meios de produção (maquinaria e matérias-primas) e do valor da força de trabalho, este expresso em bens indispensáveis à subsistência do operário e sua família . A mais-valia, portanto, converte-se em lucro para o capitalista.
Marx distingue dois tipos de mais-valia, a absoluta e a relativa, que se definem pela maneira como são aumentadas. A mais-valia absoluta aumenta proporcionalmente ao aumento do número de horas da jornada de trabalho, conservando-se constante o salário. O valor produzido pelo trabalho nesse tempo adicional corresponde à mais-valia absoluta. Assim, quanto mais horas o operário trabalhar, maior será o lucro do capital, isto é, a mais-valia absoluta, e sua acumulação. A mais-valia relativa aumenta com o aumento da produtividade, com a racionalização do processo produtivo e com o aperfeiçoamento tecnológico.
A obtenção de mais-valia conduz à acumulação do capital expressa na concentração fabril e empresarial e no progresso tecnológico incorporado à maquinaria das grandes indústrias. O uso de máquinas cada vez mais produtivas elimina periodicamente parte da força de trabalho. Os operários dispensados engrossam o "exército industrial de reserva" (os desempregados) em situação de concorrência que favorece a redução dos salários e a pauperização da classe operária.
Nas páginas de número 85/6 o filósofo expõe que o capitalista não embolsa o lucro, propiciado pela mais-valia, na sua totalidade, tendo, pois, que dividir entre , a renda territorial, ou seja, permite ao proprietário da terra embolsar uma parte, como também uma segunda fica para o capitalista que empresta o dinheiro. Com isso, a renda territorial, o juro e o lucro industrial não mais são que nomes diferentes para exprimir as diferentes partes da mais-valia de uma mercadoria ou do trabalho não remunerado, que nela se materializa, e todos provêm por igual desta fonte e só desta fonte. Logo, máquina e matéria-prima não produzem lucro algum.
Marx, no sentido de orientar a luta salarial examina a dinâmica da disputa entre lucros capitalistas e salários dos trabalhadores, sob diversos cenários:
*Aumento da produtividade ou diminuição da produtividade do trabalho, variações que decorrem de tal ou qual força produtiva do trabalho seja empregada.
*Aumento do preço em dinheiro dos gêneros de primeira necessidade sem que haja variação do valor da força de trabalho do operário.
*Alongamento da jornada de trabalho.
*Influências das fases do ciclo econômico - de calma, de animação crescente, de prosperidade, de superprodução, de estagnação e crise - sobre os salários e a luta salarial.
Conclusão.
Temos que nos questionar, enquanto leitores ativos, ou seja, aqueles que pensam a obra, levantando questões e contra-argumentando.
“Salário, Preço e Lucro’’ revela um homem que não mais um trabalho livre, antes, tem que trabalhar para comprar produtos de primeira necessidade, mas não só isso, pois, num mercado onde encontramos uma segunda natureza, ou seja, tudo está pronto, somos antes encantados pelo caráter fantasmagórico, para usar o termo dado por Baudelaire, das mercadorias, levando-nos, quais ‘’fantasmas’’, a comprar de forma alienada, sem saber o que estamos fazendo, ou por que estamos comprando esta e não aquela mercadoria. Nos arriscamos aqui a dizer que se Adorno interpretou de nova maneira o Imperativo Categórico de Kant , na sociedade alienante do capitalismo, diferente do que concebia Descartes, não mais existimos por que pensamos, e sim porque compramos, ou seja, compro logo existo. Essa afirmação, ao olhar de um lingüista, pareceria de um caráter esdrúxulo, mero jogo de palavras (cacofonia). Entretanto, estamos trabalhando com conceitos neutros, de tal modo que se fazemos uso desta troca no cogito cartesiano, é antes para alertar sobre a condição do homem no regime capitalista, para que assim, como Marx expõe nas 5 últimas páginas de seu livro, “Salário, preço e lucro’’, ocorra uma luta entre o Capital e o trabalhador, pois, segundo o autor, á tarefa do trabalhador fazer isso.
Temos que entender que a tendência do capital fiscal não é elevar os salários e sim diminuí-lo, e que se gasta muito mais com matérias-primas e maquinaria, do que com o próprio trabalhador, e não é só isso, o capital destinado à estes dois fins, maquinas e matéria-prima, cresce muito mais rápido que o destinado aos trabalhadores.
A obrigação de um leitor atento é ainda desmentir os capitalistas, no exato momento em que estes pregam o falso argumento de que o aumento de salários gera inflação, porque, como podemos verificar com a leitura da obra, o salário tem que ser avaliado tendo em vista o grandioso lucro do capitalista.
Terminamos esta exposição com uma sugestão do próprio Marx aos trabalhadores, de que estes coloquem em sua bandeira: “Abolição do sistema de trabalho assalariado.” (p.99)
É isso!


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta
Melancolia, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
[...]
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase
[...]
Crimes da terra, como perdoá-los?
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Drummond, C: ”Antologia poética”.

sábado, 11 de outubro de 2008

Aforismos Narcísicos

Tenho vivido cinquenta horas durante três dias de sua ausência.
Tenho visto Glauber Rocha e produzido teses - nunca lida: poeiras acadêmicas.
A vista só pode estar cansada quando a existência pesa menos que o mundo -assim não disse Zaratustra.
A corda-bamba é a emoção da possível morte.
A viagem mais longa tem como ponto um eu retorcido.
A imagem perfeita é do detrás do espelho.
A saudação mais humana é a que preza pelo caráter de angústia.
O café mais amargo também leva açucar.
A ferida narcísica é o que te ofereço.
Johnny Dias.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

GOTEIRA

Engraçado, meus lábios contraem-se inseguros. Veja aquela goteira que, há mais de uma semana, não se detêm.
Há sete manhãs, tardes, noites e madrugadas, parado eu aqui, nessa cadeira de madeira velha aveludada, fico a ver o som das gotas que tocam o fundo de um balde azul pálido de metal.
Sete baldes já foram necessários para suportar essas gotas tão finas que, aos poucos, transformam-se em cachoeiras se não contidas a tempo...
O orifício que permite a vazão dessas gotas é encontrado em um cano colado ao teto de uma parede de concreto já desgastado com os ponteiros, úmida.
A estrutura de cimento e areia, aos poucos, em decorrência dessa umidade, começa a exibir um bolor acinzentado e esverdeado - cor de dias chuvosos.
Se quiser, pode chegar mais perto para tocar a água que escorre pelo chão – sinta! O ambiente está encoberto, não é? Esse canto parece a dias chuvosos e invernais. Tudo é doente e frio...
Ainda existe uma cadeira ao meu lado sem ocupante. Estou pensando em lhe chamar para ficar comigo a refletir sobre as gotas aquosas. Se você começar a contar, em um minuto, terão saído daquele pequeno e estreito buraco, 44 gotas. O concreto da parede não tem coloração – é branco encardido. Está todo cicatrizado. Veja, eu posso com minhas unhas retirar a camada de uma fina tinta que se despedaça em segundos - camadas.
Está gelada a parede!
Eu queria dormir um pouco... só um pouquinho. Acontece que desde que percebi que neste canto existia esta goteira, fiquei preocupado se a goteira, aos poucos, não inundaria o local todo. Para evitar isso, eu fico acordado trocando os baldes - o cheio pelo vazio. É divertido. Só um pouco estafante. O som suave compensa a dor.
Uma coisa me preocupa: os baldes estão acabando.
Gustavo Pilizari

Glauber Rocha e o Desencantamento do Mundo.

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Sara -“Um homem não pode se dividir assim, a poesia e a política é muito para um único homem.” ...Paulo- “A poesia não têm sentido, as palavras são inúteis.”

...Paulo -“Quando eu voltei para o Eldorado não sei se antes ou depois, quando revi a paisagem imutável, a natureza, a população em sua impossível grandeza. Eu trazia uma forte amargura outra vez me perdia no fundo dos meus sentidos. Eu não acreditava no sonho, nem em mais nada. Apenas a carne me ardia e nela me encontrava.” Glauber Rocha (roteiro de terra em transe: Fala de Paulo e Sara, e o retorno de Paulo a Eldorado)

Apreciação da técnica.

No presente , pretendemos analisar o filme Terra em Transe, escrito e dirigido pelo cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981). Ao contrário da maioria das análises já feitas acerca desta obra, tencionamos dar maior ênfase à estética do filme que, a nosso juízo, ainda não foi suficientemente discutida e analisada.

Para isso recorremos, num primeiro passo, a visão de Sergio Faria Filho[1], com qual concordamos, além de acrescentarmos pontos e obras, quais o referido autor não levantou e nem desenvolveu, cabendo a nós, ao longo do texto que apresentaremos, a sua apresentação em determinados momentos, e em outros apenas a pontuação, como forma de complemento ao que fora fomentado por Faria Filho.

Terra em Transe foi filmado entre os anos de 1966 e 1967 no Brasil, retratando o cenário político da América Latina pré-ditaduras. Para retratar esta conturbação política, o diretor utilizou-se de uma narrativa extremamente complexa, pessoal e inovadora. É impressionante a evolução de Glauber de seu longa-metragem anterior (Deus e o Diabo na Terra do Sol, 1964) para este longa, principalmente em relação à direção: enquanto que a estética de Deus e o Diabo na Terra do Sol é uma fusão do cinema revolucionário de Sergei M. Eisenstein (o filme chega a possuir até uma espécie de tributo à antológica cena da Escadaria de Odessa da obra-prima do diretor, O Encouraçado Potemkin) e do Neo-Realismo Italiano (principalmente dos filmes de Luchino Visconti e Roberto Rossellini), em Terra em Transe há uma nova estética com elementos criados pelo próprio diretor, embora ainda contenha elementos das escolas italianas e soviéticas. Sem dúvida, há um sensível amadurecimento entre essas duas obras.

A narrativa de Terra em Transe é o meio pelo qual o artista transporta suas idéias político-sociais. Podemos destacar como as principais características desta narrativa revolucionária:

•Citamos aqui a Ismail Xavier, na sua obra, “Alegorias do subdesenvolvimento”, onde o critico faz referencia ao caráter teleológico da película de Rocha, para usar suas palavras: “Meu universo é o das narrativas, terreno em que a teleologia [...] se afirma na medida em que a sucessão dos fatos ganha sentido a partir de um ponto de desenlace que define cada momento anterior como etapa necessária para se atingir o Telos( fim).” (Xavier, 1993: 12) Com isso, notamos a afirmação que o critico faz uma relação entre o microcosmo ficcional e o microcosmo social. O que nos faz lembrar do afã de Glauber, quando coloca os personagens virados de frente para a câmera, de conseguir realizar o intento de desencadear a imaginação do espectador, ou, mais ainda propor para o mesmo que pegue em armas e faça uma revolução, esta tomando uma conotação anárquica- e sabemos ser possível só num plano metafísico, daí o caráter surreal do final do filme


• O estabelecimento da montagem narrativa ocorre como no jornalismo. Isto está visivelmente presente no longa, porque o diretor é também um jornalista, o personagem principal é um jornalista, o tema é jornalístico e o filme é praticamente uma reportagem, mesmo que fictícia.

• A Descontinuidade presente na trama, assim como ocorre em A Greve (1925), também dirigido por Eisenstein, Terra em Transe primeiro expõe o fato para só depois expor quais as causas desse fato, ou seja: o início é o fim do filme. A quebra da narrativa linear é apenas uma das inúmeras provas que em Terra em Transe, Glauber ainda não se desvinculou de sua influência européia, o que viria a ocorrer apenas no final de sua carreira. É sempre bom ressaltar que a descontinuidade da narrativa do filme não tem a intenção de confundir o público ou de fazer do filme uma grande charada, como infelizmente acontece com certa freqüência no cinema atual. Ao utilizar-se da quebra da narrativa linear, Glauber tão somente deseja forçar o espectador a refletir sobre o que está sendo exposto no filme.


• É notório que não há um padrão ou uma lógica na narrativa. Dessa forma, Glauber Rocha obriga o espectador a pensar acerca de sua obra. Ao contrário do que ocorre com a maioria dos cineastas tradicionais, Glauber não consegue, nem tampouco deseja, controlar a interpretação de sua obra. O que ele realmente deseja é causar um desconforto no público de maneira tal que este não consiga sair do cinema sem refletir acerca do que viu na tela. Conseqüentemente, é impossível haver qualquer adestramento ideológico, prática extremamente comum por parte de vários governos totalitários em todo o mundo, bem como por parte de grandes produtoras ou empresas que desejam adestrar o público, fazendo com que este aceite uma idéia sem qualquer discussão acerca de sua natureza. Um exemplo clássico deste adestramento ideológico seria o Realismo Socialista perpetrado por Stalin, assim como os filmes de ação hollywoodianos da década de oitenta, notoriamente ufanista.

•O plano sonoro do filme apresenta variabilidade de estilos musicais, que começa com samba, perpassa por cantos afros, engendra uma cena com um fundo de ópera, e coroa o momento de entrega à sensualidade do personagem Paulo em volto pela sonoridade do jazz. Em vários momentos utiliza-se de sons sobrepostos, os quais criam uma dissonância levantando um caráter múltiplo de sentidos, onde cada cena revela o seu.


• Com relação à Dinâmica, dificilmente vemos a câmera parada no filme. Glauber não se cansa de movimentar a câmera e, ao mesmo tempo, utiliza-se de uma quantidade impressionante de cortes. Um ótimo exemplo da dinâmica de sua narrativa é a cena em que, no “início” do filme, a câmera filma um grupo de pessoas conversando. O que impressiona nesta cena é que em vez de deixar a câmera estática, Glauber filma a conversa fazendo círculos contínuos e incessantes nos atores, causando um estranhamento no público. Outro ótimo exemplo é a maneira com que o diretor filma um diálogo com atores em movimento na película. Ao contrário da forma convencional, o cineasta resolve filmá-los fazendo vários cortes sem parar sua seqüência, sendo que estes cortes, muitas vezes, levam a câmera para um lugar bem distante de onde esta estava antes do corte, dando a dinamicidade que o filme tanto precisa.
No que tange o roteiro, o filme é um retrato de toda a América Latina (não apenas o Brasil), razão pela qual Glauber resolveu passar o filme num país fictício chamado Eldorado, decisão esta extremamente válida. Caso o filme tivesse sido passado no Brasil, daria um caráter nacional à obra, ofuscando o resto do continente. O ponto é que embora existam diversos países em toda a América Latina, os problemas político-sociais são sempre os mesmos, modificando-se apenas sua intensidade.
A importância de Terra em Transe para o cinema brasileiro é imensurável, sendo este filme o cerne do movimento cinematográfico brasileiro conhecido como Cinema Novo. Este movimento propunha um novo cinema, sendo fiel à realidade social de nosso país, denunciando toda a pobreza e miséria que a maioria da população vive. Pela primeira vez o “verdadeiro” Brasil invadia as telas do cinema.

•A câmera não cessa, ou seja, assume um caráter de movimento circular revelando elipses temporais e de espaços. Mostrando ainda, o que aparentemente pode ser tomado como imprevisto como algo deliberadamente previsto. Vale lembrar a espantosa exibição na tela de um poema de Mário Faustino, o que mais uma vez reforça o que estamos chamando de caráter jornalístico.

A caráter de curiosidade poderíamos estabelecer um paralelo entre Glauber e Godard, tal paralelo é balizado no fato de que ambos apresentam o seguinte esquema: começo, meio, e fim- não necessariamente nesta ordem.

Apreciação Filosófica.

“Terra em Transe” e o Desencantamento do mundo.

Max Weber pode ser considerado um dos autores que influenciaram diretamente a chamada “Escola de Frankfurt” como um todo. É a ele que temos que dar o crédito do uso, pela primeira vez, do termo desencantamento, como o encararemos aqui. Entretanto, optamos nesse texto por apontar a influência exercida por um conceito de Weber sobre a obra em comum de Horkheimer e Adorno, “Dialética do Esclarecimento”, sendo esta tomada como baliza para o paralelo que traçaremos aqui.

Tereza Ventura em seu livro, “A poética polytica [sic] de Glauber Rocha”, levanta a questão política brasileira, expressa pelo oposto, qual seja, de um lado a população – “regida pelas musas e cantos míticos revela uma herança cultural distinta do racionalismo burguês” (VENTURA, 2000:222). Do outro lado, o poeta “como consciência possível para o homem do Terceiro Mundo” (ibidem).

Tal afirmação nos remete, de chofre, a cena do filme no qual o povo é chamado para falar, e o que se faz notar é, no fundo, um vazio ensurdecedor, pois, seria difícil para este homem camponês “cuja vida é regida pelas musas e cantos míticos”, ser aceito pelo racionalismo burguês ocidental, ou seja, o mundo do dominado e do dominador, do índio e do branco, sempre serão geradores de conflito, opostos, para lembrar o uso corrente destes por parte de Glauber, revelando a emancipação, e com isso nos remetemos de chofre ao fim da película, somente por meio da morte do ditador, e não menos do Eldorado, que toma à primeira cena, e que dá desfecho a película – como um fim nunca encontrado.

Eis que surge também a figura do poeta, que, ao lado da população, é a representação do desencantamento, quer seja, pela perda do sentido ou desmagificação, pois, por mais que este último recorra ao mito, eles são de ordem sacramental, e, em sua maioria, católica.

Pierucci em “O desencantamento do mundo” é pontual:

“A ação orientada segundo representações mágicas, por exemplo, tem muitas vezes um caráter subjetivamente muito mais racional com relação a fins do que qualquer comportamento ‘religioso’ não mágico, posto que a religiosidade, à medida que avança o desencantamento do mundo, se vê obrigada a aceitar referências de sentido cada vez mais subjetivamente irracionais com relação a fins” (PIERUCCI, S/D:47) [grifo no original].

Notamos assim, que há um grito de desespero da parte tanto do anti-herói poeta como da parte do povo. E um abismo entre um e outro. O primeiro diz que, como não agüenta o mundo, precisa abrir caminhos, mas, logo depois, acrescenta: 'nem que seja para abandoná-los', assumindo compromisso menos com resultados e mais com a luta por eles. Já o povo, se ora é representado por quem mostra disposição para reagir a desmandos, ora é definido em voice-over como fraco e obediente, sempre beijando os pés de quem carrega armas ou cruzes, o coronelismo, de todas as instâncias, e a religião. No lado oposto dos dois, há a figura de Paulo Autran, para quem o povo no poder é o descalabro.

Em Terra e Transe a força divina da palavra conduzia o universo cultural do mundo arcaico, em que a poesia era o eixo da vida espiritual dos povos. Essa dimensão arquetípica da cultura arcaica, anterior à escrita e mítica da cultura da história, é entendida por Glauber como uma potencialidade dos povos do Terceiro Mundo. Como se o poeta pudesse romper com a cronologia constituída pela dominação colonial e desfrutar de um tempo ausente na cultura racional e cristã do colonizador.

Ele reconhece a tragédia da impossibilidade desse retorno, a partir do apelo ao retorno da divindade salvadora, aponta VENTURA. (2000:223).

Estabelecendo um paralelo, recorremos mais um a Pierucci:

“E além do mais, a religiosa devia ser o mais possível despojada do caráter puramente mágico ou sacramental dos meios da graça. Pois estes sempre desvalorizam a ação do mundo como tendo significado religioso na melhor das hipóteses relativo e ligam a decisão sobre a salvação ao êxito de processos racionais não cotidianos. As duas condições, desencantamento do mundo e deslocamento da via de salvação, da ‘fuga do mundo’ contemplativa para a ‘transformação do mundo’ ascético-ativa, só foram plenamente alcançadas – à exceção de algumas pequenas seitas racionalistas encontradiças do protestantismo ascético no Ocidente” (PIERUCCI, S/D: 48). [grifo no original]

É inevitável falarmos do progresso, da tecnologia e os sistemas políticos das grandes nações do ocidente, os quais oprimem a evolução da civilização do Terceiro Mundo, na medida em que submetem ao colonizado um processo obrigatório de dependência e assimilação de valores culturais conflitantes com a vocação nativa.

“Quanto mais o intelectualismo repele a crença na magia, e com isso os processos do mundo ficam ‘desencantados’, perdem seu sentido mágico e doravante apenas são e acontecem, mas não significam mais nada, tanto mais urgente resulta a exigência, em relação ao mundo e à conduta de vida como um todo, de que sejam postos em uma ordem significativa e plena de sentido” (ibidem).

Terra em Transe denuncia a fragmentação dos valores ético-políticos, seja nas elites, seja nas massas, e a ausência de um processo revolucionário. O transe aponta a idéia de que não existe uma realidade acabada, que esta não opera no registro de uma racionalidade histórica, temporal e intelectual como resultado de uma razão conservadora alheia à “especificidade complexa e ambígua” do Terceiro Mundo.

O filme denuncia a idealização romântica do “povo” e a pseudopedagogia teórica e abstrata das esquerdas, o dilema do intelectual entre a descrença na revolução, a conversão à militância e o isolamento diante do povo.

O Brasil de Terra em Transe não efetiva um modelo emancipatório de cidadania política. No terreno da modernização técnica o filme anuncia um imaginário arcaico que se materializa no ritual carnavalizado ou na ignorância do processo político. Tratava-se para Glauber de mostrar a cultura brasileira em sua ambigüidade, tencionando as antinomias: erudito/ popular; reacionário/revolucionário; alienação/ engajamento; nacional/ internacional, arcaico/moderno. A ambição era desmistificar essas polaridades e apresentá-las como um campo de invenção positivo no imaginário brasileiro. Criticava-se a cultura das elites que recusavam o cafona e cultivavam o bom-gosto.

“Muitos dos antigos deuses, desencantados e doravante sob a forma de potências impessoais, emergem de seus túmulos, esforçam-se por ganhar poder sobre nossas vidas e novamente recomeçam sua eterna luta uns contra os outros. Mas o que se torna assim tão duro para o homem moderno, e mais duro ainda para as jovens gerações, é o estar à luta desse dia-a-dia. Toda busca de experiência provém dessa fraqueza. Pois fraqueza é: não ser capaz de olhar de frente, em seu severo semblante, o destino do [nosso] tempo” (ibidem, p.52). [grifo no original].

“Os senhores, que antes me chamavam de gênio, hoje me chamam de burro, devolvo a genialidade e burrice. Sou um intelectual subdesenvolvido como os senhores, mas diante do cinema e da vida tenho, pelo menos, a coragem de proclamar a minha complexidade (...)”.

Glauber Rocha (resposta para a hostilidade contra o filme e acusações de sua falta de qualidade artística).

quarta-feira, 3 de setembro de 2008


Entrevistas.

Entrevistado: J. V.
Seu silêncio nunca é oco!
Espero conseguir responder todas elas,
Bem, vou começar...
O QUE É A VIDA?
Eu acho que a vida (aqui encarnado, nesse planeta Terra) é uma forma de aprendermos a nos respeitar, prosperar e amar - é uma visão espiritual sim. O contrário seria uma barbaridade
O QUE VOCÊ ACHA DA MIOPIA?
Acho que é uma maneira deficiente de enxergar as coisas, tem míopes que realmente o são. Tem gente que parece gostar e preferir ser míope. Tem muitos casos e graus de miopia .
O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMO?
Quando eu percebo que estou escondendo, então quero saber por quê
QUAL A SUA MAIOR DOR?
Ah,hoje eu não sofro muito como na adolescência. Tenho algumas preocupações, ansiedades, como manter e me sustentar neste mundo materialista, etc. E também me causa um sentimento de "sinto muito" quando vejo pessoas em estado calamidade, seja moral ou materialmente
O QUE VOCÊ TEM SONHADO?
Sonhado dormindo ou de olhos abertos?
O QUE É A MORTE?
Pra mim existem pessoas que estão respirando e vivendo de uma maneira a morte, um estado de maus pensamentos e sentimentos. O desencarne dessa vida é só uma passagem, esta eu acho que não existe
PARA QUE SERVEM OS LIVROS?
Os livros como as outras artes, as tecnologias, servem para o adiantamento do homem.
COMO VOCÊ ENCARA O ATO SEXUAL HOMOERÓTICO?
Na verdade não vejo diferença em relacionamento homo ou hetero, o que existe são relacionamentos! O ‘’Ato’’ acho feio quando seja desrespeitoso, grupal - e que devemos nos afastar de relacionamentos sexuais muito vulgares. Somos sexuados e isso não dá pra negar, visto termos um corpo e sermos responsáveis pelo que fazemos com ele, devendo tratá-lo com respeito e não impor restrições impossíveis










Entrevistada: L. P.

O QUE É MIOPIA?
Nesse contexto, para mim, miopia é sinônimo de preguiça. Temos é preguiça de ouvir o que os outros têm a nos dizer, olhamos com desdém aos problemas alheios, só queremos e nos preocupamos com o mundinho “caixinha de fósforo” que criamos, para de uma forma, mais que egoísta, nos isolar e viver só para nós mesmos!
QUAL A SUA MIOPIA?
Bem, minha miopia é de 0,25 – se é que me entende. Você me conhece e entende minha necessidade de me isolar, justamente dos meus problemas! Adoro vestir a capa preta e/ou vermelha do outro!
QUAL O SEU MAIOR MEDO?
Meu maior medo é de morrer já estando morta.
O QUE É A VIDA?
Eu não sei o que é a vida, apenas sei o que é a minha vida. A minha vida é uma piscina de balões coloridos, e de repente “BOOOOM”, alguns se estouram... Tomo fôlego e encho outro, e mais outro, e mais quantos outros forem preciso, pois não suporto perder nada, sequer um balão colorido.
O QUE É O AMOR?
Agora Johnny, meu querido, eu não ligo a mínima.
AMOR E ÓDIO ESTÃO SEPARADOS?
Acho que tudo depende da época em que essa pergunta é feita. No momento eu digo que não; um é componente fundamental para a sobrevivência do outro, mas só digo isso porque não sou todo amor, não agora! No entanto, quando meus olhos se enchem de lágrimas, seja por uma música qualquer, ou por um amor qualquer, eu já descarto o ódio, pois uma coisa tão bela como o fato de amar e se emocionar por isso, não pode sequer ter um contato minúsculo com algo tão “não sublime” quanto o ódio.
O QUE VOCÊ ESCONDE, INCLUSIVE DE SI MESMA?
Escondo minha ignorância, escondo minhas fraquezas, escondo meus medos, escondo minhas lágrimas mais profundas e sinceras.
A VIDA EM UMA PALAVRA.
Ervilha.
UM SONHO...
Nesse momento eu sonho em estar sentada a margem do Rio Sena, com um chapeuzinho, muito charmoso na cabeça, e com seu livro em mãos... Bem, a cena tem como trilha sonora Edith Piaf, é claro! A temperatura está sendo amenizada pelo sol que esquenta a ponta do meu nariz.Depois de muito ler, muito me reencontrar, levanto, chacoalho minha manta de crochê e a guardo em minha bolsa vermelha como as minhas unhas. Dou alguns passos e eis que trombo com um francês de uns 30 anos. Ele é pintor, eu acho, pois estava a guardar seus materiais e sua tela inacabada. Ai, como ele é lindo, e como me emocionou com aquele largo sorriso. Só queria aquela barba por fazer raspando em minha pele branca. De fato era uma beleza diferente, não possuía aquele estereotipo de ator de filme hollywoodiano. Era um moreno com os cabelos mal arrumados, mas era alto e tinha os braços fortes, o que fazia com que todas as suas imperfeições tornassem imperceptíveis... E que sorriso lindo, o mais lindo que eu já vi em toda a minha vida. Os olhos eram castanhos e tinha o cilho viradinho, coisa de deixar qualquer mortal enlouquecida. Como eu queria sentir aquela barba.Olhamo-nos de uma forma deliciosa, mas foram só olhares e sorrisos. E é por isso que não vejo a hora de, amanhã, sentar na mesma beira do rio, na mesma hora e com o mesmo livro, a espera pelo sorriso largo que dilacerou meu coração.
A HORA DA LIBERDADE: ENFORQUE-SE NELA...
Fernando, “É você, só você, que na vida vai comigo agora...”
VOCÊMENTIU EM ALGUM MOMENTO?
É claro que sim, ou você realmente acreditou que eu não ligo a mínima para o amor?


Meu bem, as primeiras respostas estão aqui. Prometo fazer de tudo para responder as outras até segunda feira!Espero que tenha gostado, e que eu tenha respondido a altura. Saiba que fiquei muito honrada por fazer parte do grupo dos que vão ajudar você a compor seu personagem, e que eu torço demais para seu sucesso, em todos os campos de sua vida. Eu amo você!









Entrevistado: J. V. (Segunda parte)

VOCÊ CHORA?
Não com freqüência, mas todas as vezes que choro seja de tristeza, alegria, emoção, gratidão, é sempre muito bom
A VIDA EM UMA PALAVRA?
Respirar
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE....
Isso é bem o seu jeito mesmo (risos) vou responder só pra você Johnny.
Você quer saber de algo que um dia desejei e não tive e agora podendo, o quê faço? Pois bem: , por exemplo,quando mais jovem ,há algum tempo atrás, sobre o sexo (pegar alguém ou sair pra pegar) sabe? (risos) bem quando se está super ansioso, tenta , tenta, chega perto, e quando vai acontecer se afasta, e fica aquela coisa do medo (medo?).
O que será que impede, chegamos quase lá? - eu me perguntava... com o passar do tempo, de tanto desejar e me frustrar, a vida me deu uma oportunidade, é onde vê que aquilo em hora errada seria meio catastrófico e viciante...
O tempo do vermelho vivo já passou, e AGORA você tem liberdade, a tão procurada, mas tem, junto com ela, a responsabilidade.
Acho que liberdade na verdade só aos disciplinados pertence. Isso pra quem anseia é tão decepcionante, mas acho que é verdade.
VOCÊ MENTIU EM ALGUM MOMENTO?
Para responder aqui? Não!
Na vida, .já, em momentos úteis ( mas nada muito grave, coisinhas q posso me perdoar) . Mas não pra mim mesmo.

















Entrevistada: C. L.

O QUE É A VIDA?
Tudo que está alem do que eu posso imaginar mesmo que eu não saiba o que é tudo e muito menos o que esta além – é algo que me supera POR QUE BILOGIA?
Ai está: um dia eu sonhei que poderia estudar tudo sobre a vida, conhecer o máximo de coisas que nela esta.
Não quero descobrir, nem criar nada de novo .Quero conhecer o máximo possível...perder sobretudo o parâmetro humano (humanamente perder o parâmetro humano) O QUE É MIOPIA?
É o horizonte do improvável...
Tentar ver além do que se imagina...
Enxergar o horizonte de maneira esfumaçada e insólito. O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMA?
Eu escondo que eu escondo de mim mesma!
QUAL A SUA MAIOR DOR?
A dor do mundo, da inexistência, a dor das paixões, a dor da vida não vivida e sempre prestes a viver, dor da vida que eu imagino ser a minha. O QUE VOCÊ TEM SONHADO?
Em viver uma vida só minha. QUAL A DIFERENÇA DE VIDA QUE A UNIVERSIDADE LHE DEU?
Agora tenho que lavar minha roupa, e preparar meu próprio café nas manhãs - mas agora eu decido se ele vai ser amargamente doce ou docemente amargo. O QUE É A MORTE?
E o momento em que se encontram as duas pontas da linha da vida. PARA QUE SERVEM OS LIVROS?
Leio e me livro de mim. ENOFRQUE-SE NA LIBERDADE...
Eu sempre prefiro o silencio.
VOCÊ MENTIU EM ALGUM MOMENTO
É segredo.

" Eu não sei onde termina o mamífero no ser humano a não ser sob oaspecto da comparação" (Valter cunha - entomologista formicólogo) te amo sem medidas (este eu me apropriei de você)C.L



















Entrevistado: R. B.

O QUE É MIOPIA?
Miopia pra mim é a grande causadora dos conflitos de hoje em dia, sejam banais ou não.
A distorção, o pré-conceito e coisa e tal. "coisa e tal" (não vale – risos)
hummm... Vamos ver!
Exemplos de miopia: distorção de fatos e pré-conceito já basta, ou melhor, tudo o que posso dizer sobre.

QUAL A SUA MIOPIA?
Havia esquecido uma das miopias, talvez não uma miopia perfeita, mas o que as rege: o medo!
Tenho medo sim de algumas coisas!
O preconceituoso tem medo de que sua raça, status social etc.
Perca sua hegemonia, hegemonia q eles acreditam ter, hegemonia que eles criaram.
Não tenho miopia, só uma peça dela: medo.

DO QUE TEM MEDO?
Tem gente que tem medo da morte, outros têm medo de guerras, eu tenho medo do amor.

VOCÊ CHORA?
Quase não choro, por isso a minha melancolia é forte, meu desamor e minha solidão não me deixam chorar.,elas me fazem também rir da minha cara de um pobre garoto que chora por amor e companhia e aí eis o promíscuo equilíbrio de estados de espírito, a lágrima quer cair e não cai.
Choro à grafite sobre pautas.

O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMO?
Escondo de mim o amor, porque dele tenho medo, ora.

PARA QUE SERVE A ARTE?
A arte? Pra traduzir nossas emoções e nos fazer chegar ao desconhecido, ao Deus que rege todo esse complexo sistema que se chama vida.
A arte serve pra que não possamos morrer!

O QUE É O AMOR?
O amor? Aquilo que é obscuro e letal. Algo que não conheço muito bem,talvez por isso tenho medo.

E A VIDA?
A vida... uma reta paralela ao tempo, porque só eles dois são realmente eternos, nós não necessariamente somos eternos, mas a vida e o tempo são - a vida é só uma reta paralela ao tempo.

COMO VOCÊ VÊ O ATO SEXUAL HOMOERÓTICO?
Homoerótico... Olha, pra ser sincero não curto muito erotismo, não gosto muito do sexo, ele assassinou o amor, homicídio não doloso, apenas culposo, mas de qualquer forma assassinou.
O amor ideológico, aquele que eu tenho medo e tanto é que me afasto dele por isso, é o que pra mim tem mais valor.
Sim, eu me afasto do amor porque eu o temo!

AMOR E ÓDIO ESTÃO SEPARADOS?
Amor e ódio são coisas opostas, mas que têm o mesmo grau de facilidade (ou dificuldade) pra serem obtidos.Duas coisas pavorosas, porque por eles sofremos, e duas coisas necessárias.
PARA QUÊ SERVE SER FELIZ?
Ser feliz... bom a felicidade é coisa simples, é o it (recorrendo a Clarice) essencial ao nosso coração, sensação ,às vezes infundada, mas eu não tento entender o porquê, o pra quê (de) ser feliz.
Clarice diria que ser feliz supera qualquer entendimento (risos) e eu concordaria calado e rindo... de felicidade.


O QUÊ É SER FELIZ?
ser feliz é amar e ser amado. (e não ter medo disso)
fazer o que gosta e lucrar com isso.
ter amigos por todo lado
ter irmãos
um pé de goiaba no quintal de casa...
é ignorar a situação caótica do sistema mundial.
é dormir pesado feito um bebê ou uma pedra de recifes...
apesar de parecer um campo de empecilhos, não é difícil ser feliz não.


ONDE VOCÊ SE ESCONDE?

Eu me escondo diante de um caderno fechado ou atravessando a rua pra comprar pão na padaria, isso é muito corriqueiro, eu me sinto sumido no meio de todos, e passo a ser um pedaço do todo que há nesse espaço.
Quando escrevo, eu me denuncio!

ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Eu já me apaixonei platonicamente um dia, mas agora é tarde (risos)

VOCÊ MENTIU?
Todos mentem, eu não fico fora da lista, lógico.




























Entrevistado: A. H.

O QUE É A MIOPIA PARA VOCÊ?

Defeito nos olhos.
QUAL A SUA MIOPIA?

Bastante. Ficando cego a cada ano.


DO QUE VOCÊ TEM MAIS MEDO?

Palhaços anões.


VOCÊ CHORA?

É, eu já fiz isso algumas vezes.

O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMO?

Algo que irei esconder de você também.

PARA QUE SERVE A ARTE?

Pra discussão.

COMO SE DÁ A SUA PRODUÇÃO ARTÍSTICA?

Sendo designer, essa linha que traçamos com arte e design é algo bastante vago. Tenho o dom de pensar numa criação e torná-la útil ao homem no seu dia-a-dia, portanto não me considero um artista.

O QUE É O AMOR?

Uma mistura de paixão com apetite sexual.

O QUE É A VIDA?

Algo difícil.

AMOR É SEPARADO DO ÓDIO?

Sim.

PARA QUE SERVE SER FELIZ?

Para não se matar de depressão.

O QUE É SER FELIZ?

Ter dinheiro pra comprar o que quiser e ter uma namorada gostosa, inteligente e fiel em casa que cozinha como uma gorda negra.

ONDE VOCÊ SE ESCONDE?

Em nenhum lugar, minha cabana nas montanhas ainda está em construção.

PARA QUE SERVEM OS LIVROS?

Para apoiar um sofá com o pé quebrado ou uma mesa com a perna torta.

ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE.

"Eu nunca gostei de azeitonas, e acho que elas deveriam ser extintas"

VOCÊ MENTIU?

Nunca!











Entrevistada: V. L.

O QUE É A MIOPIA PARA VOCÊ?
Vejamos a miopia por dois lados,
No primeiro, levamos em conta a cegueira que impede o indivíduo a visualizar além do próprio mundo matéria, aquele que se forma através da energia do agrupamento de várias energias vitais e que dá forma a toda matéria viva. Essa miopia, de ver somente a matéria, vai se intensificando no decorrer da vida e termina na morte propriamente dita uma vez que a matéria se decompõe com o desmembramento dessas mesmas energias, que se unirão mais adiante para formar nova forma, novo inicio.
Na segunda miopia, quem vê além da matéria, quanto mais míope, mais se encontra no espírito e mais se aproxima do verdadeiro eu, que é a energia pura que temos quando criança.

QUAL A SUA MIOPIA?
Quem me dera ser míope para não ver através do espírito, a matéria sendo corrompida, degradada, usada e enfim putrefata consumida pela ganância, e maldade que habitam hoje nosso mundo material e espiritual.
Minha miopia é ser completamente cega, não querer ver o que acontece, para poupar meu espírito do caos que se encontra a minha volta.

DO QUE VOCÊ TEM MAIS MEDO?
Que meu espírito criança, vendo tudo que me rodeia, fique tentado a me deixar.
VOCÊ CHORA?
Claro que choro, se não chorasse como limparia minha alma?
O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMA?
A vergonha de nada fazer para salvar o que resta de bondade no mundo.
PARA QUE SERVE A ARTE?
Para que entremos num mundo paralelo, o da imaginação e criação, e, neste mundo, ficarmos somente em contato com os deuses.
COMO SE DÁ A SUA PRODUÇÃO ARTÍSTICA?
Num alienamento total da matéria, soltando a imaginação para que ela percorra caminhos estranhos aos meus, e me traga na volta o dom da criação através de meus dedos.
O QUE É O AMOR?
É a vida.
O QUE É A VIDA?
É o amor
Um não se sustentaria sem o outro.
AMOR É SEPARADO DO ÓDIO?
Por uma tênue camada de um material chamado compreensão.
PARA QUE SERVE SER FELIZ?
Para que os que estão a nossa volta sejam felizes.
O QUE É SER FELIZ?
É estar em comunhão com a criança que nasce em você todos os dias. Ela brinca e ri das menores coisas e acha tudo lindo, mesmo que seu eu já tenha se cansado de ver o que os olhos que renasceram vai ver novamente. Tudo se renova a cada segundo, e você quer felicidade maior de poder ver a mesma coisa a cada segundo de um modo diferente?
ONDE VOCÊ SE ESCONDE?
Na gaveta do armário, trancado no porão de minha consciência.
PARA QUE SERVEM OS LIVROS?
Para dar sabor aos pratos que somos obrigados a comer diariamente.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE.
Vai meu espírito, minha energia vital, corra agora para outros mundos, aqueles com os quais você sempre sonhou, mas nunca pode alcançar sempre preso na matéria. Voe livre, seja um pássaro, ou uma minhoca, explore os elementos e sinta realmente o que é viver.

VOCÊ MENTIU?
Se eu dissesse que não, estaria mentindo agora. Quem nunca mentiu?
Somente as crianças que se foram muito cedo, sabem o que é passar por esse planeta sem ter mentido. E quem disser o contrário, estará mentindo.
Mas agora meu amigo, coloquei minha alma nas respostas, e não são mentiras. Mas poderão ser daqui uns tempos.
Quem não muda sua opinião, com um novo ensinamento, permanece duro como uma rocha e não suave como uma flor.











Entrevistada: G.G.

O QUE É A MIOPIA PARA VOCÊ?
Bem, depende, acho que pode ser uma necessidade, em certo grau. Entretanto pode ser uma doença, quando aguçada demais.
Quer dizer, o limite aí seria o do prazer, seja de ver e der não ver.
É isso: um limite.

O QUE A ESCRITORA/FILÓSOFA GUIOMAR TRAZ DE PROBLEMAS PARA A MULHER GUIOMAR?
Certamente todos, é que pelo fato de me ocupar com a burocracia que esta função me cobra, cabo por vezes tendo que ocultar a mulher, e por isso mãe. E digo mais, a escritora também fica obrigada a se ocultar, ao passo que cada vez mais tem, e isso é o que me mata, esta palavra, quer dizer, esse ‘’tem’’, essa ocupação do meu tempo, onde não mais posso viver a desocupação, ou, em outras palavras, o ócio, que muitos experimentaram como sendo o mais saboroso para uma produção.

VOCÊ CHORA?
Sim.
POR QUÊ? OU PELO QUÊ?
Pelo que temos feito de nós, e também pela arte, quando termino um livro , e tanto outros.
O QUE É SEXUALIDADE?
Acho que tudo tem a sua sexualidade, tudo tem o seu lado sexual, que deve ser explorado, provado mesmo, sentido nas entranhas.

VOCÊ SE ARREPENDE DE ALGUMA COISA?
Acho que de alguma não, e sim algumas, mas para dizer uma, eu ficaria com a questão do tempo.
Eu sou uma pessoa que teve a oportunidade de viajar, de conhecer vários lugares, mas o fato da falta de tempo, para cumprir coisas que considero ser essenciais, várias vezes é tema de meu desconforto.
POR QUE KIERKEGAARD?
Por que tem tudo a ver comigo, aquela mistura, aquele cristianismo e o tom de libertação – acho que é devido ao fato de eu me encontrar muito em suas obras.

ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Eu queria ter aproveitado mais, e talvez trabalhado menos.

O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMA?
Acho que somos seres infinitamente dotados da capacidade de esconder coisas, e por vezes, sabe, eu acho que nos escondemos muito bem, em preconceitos, em ladeiras, em crises, e aventuras – eu me escondo onde qualquer um pode me achar.

VOCÊ MENTIU EM ALGUM MOMENTO?
Você sabe que eu gosto muitíssimo de você, e para você eu não mentiria.





Entrevistada: F. S.

O QUE É MIOPIA?
Uma necessidade, porque quando olhamos muito ao longe, muito distante, acabamos por perder o que esta por perto, próximo, e com isso a miopia tornar-se-ia uma necessidade para podermos ver algo mais de perto, com aproximação, quase tocando, ou tocando.

QUAL A SUA MIOPIA?
Quando eu cheguei aqui, esta cidade, por ter um limite, ou seja, por ser rodeada destes morros, causou-me susto, mas percebi que aquilo era um limite, porque eu sempre tive a mania de andar olhando o que estava distante, o que estava lá, bem longe de mim – eu precisava desta espécie de miopia, que só aqui encontrei.

O QUE A FABRÍCIA DA FACULDADE TRAZ DE PROBLEMAS PARA A FABRÍCIA MULHER?
Fui por muito tempo a Fabrícia da faculdade, e neste tempo eu perdi a minha vida, quer dizer, enquanto eu estava me entregando à academia, eu absolutamente esqueci de viver – e o que restaria mais tarde para mim?

VOCÊ CHORA?
Com muita freqüência, choro pela arte e pela/por dor.
O QUE É A VIDA?
Um jogo, ou você entra e joga, ou está absolutamente fora do processo, do viver (risos).
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
( Que medo! Risos) Acho que eu deveria ter jogado mais, este tal jogo da vida. (risos).
VOCÊ MENTIU?
Não!















Entrevistada: H.F.

O QUE É A MIOPIA?
O próprio Saramargo tem uma idéia interessante, onde diz que têm coisas ao nosso redor, que não notamos, mas que a todo momento está ali.
Para você ter uma idéia, os índios não reconheceram as naus, eles achavam que aquilo era um sonho, ou parte de um sonho, e só depois, quando puderam ver que estava perto deles, e que das naus saiam pessoas, foi daí que começaram a acreditar que era algo palpável, e não um sonho.
Acho que isso acontece com nós – essa mistura de sonho com realidade.

VOCÊ CHORA?
Meu bem, eu choro todos os dias, até com comercial de televisão.
QUAL A SUA IDÉIA DE SEXUALIDADE? E DE HOMOSSEXUALIDADE?
Acho que a sexualidade parece, meu bem, um limite, o que não deve ser - não pode ser.
Não vejo diferença entre homem, mulher, lésbica, gay...é tudo incrível.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Eu assumo que quero um mundo cor de rosa, que eu crio o meu mundo, que este não me serve.
Quando eu vejo um trombadinha passando fome, eu chego a passar mal, de forma que eu prefiro pensar que a vida que ele está levando é a chamada ‘’vida alternativa’’ – eu quero ver assim: eu quero o meu cor de rosa.
VOCÊ MENTIU?
Acho que não!

















Entrevistado: G. P

O QUE É A MIOPIA PARA VOCÊ?
E saber que do mundo queria só seu cheiro em meus olhos, mas eles, tão frágeis, me revelaram o que nunca quis ver... e vejo e nauseio ver o que não é de mim...
E sei que é fato patológico que os óculos estão mais largos e escuros... todos estão se escondendo, não querem ver sua vida... tanto menos descobrir sua música interior.... Para mim, apropriando-se de seu termo muito bem vindo, metade do humano é míope, a outra não enxerga e deseja ser cega... cabe a nós sermos os óculos...
QUAL A SUA MIOPIA?
Infelizmente também me encaixo nesta miopia... no entanto em seu processo inverso... nasci cego e hoje percebo que o céu começa a se desembaçar e logo os óculos da ignorância serão jogados... tenho tanto que ver!!!
DO QUE VOCÊ TEM MAIS MEDO?
De me esquecer.

VOCÊ CHORA?
Lágrimas secas na maior parte do dia...
O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMO?
Minhas vontades... porque delas não sei quais seriam minhas reações se todas alcançasse...

PARA QUE SERVE A ARTE?
Para flutuar.
O QUE É O AMOR?
O que sinto de mim...
O QUE É A VIDA?
Essa coisa que está presa a nós... mas geralmente dela eu fujo...

O QUE VOCÊ ACHA DO ATO SEXUAL HOMOERÓTICO?
Deve ser pensado...

AMOR É SEPARADO DO ÓDIO?
O ódio esconde a vontade e o amor idem...
PARA QUE SERVE SER FELIZ?
Não sei... dizem que é bom... mas eu realmente não sei...
O QUE É SER FELIZ?
Não sei...
ONDE VOCÊ SE ESCONDE?
Em mim...
PARA QUE SERVEM OS LIVROS?
É a perfeição que busco, na maior parte das vezes...
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE.
Esqueci de colocar o relógio para funcionar... tenho de voltar tudo de novo...

VOCÊ MENTIU?
Sim, me afoguei nas palavras e não sei se pude dizer o que realmente queria... mas em suma, pode crer, não pensei em mentir, mas faz parte deste jogo maldito das palavras...









Entrevistada: V.T

O QUE É A MIOPIA?
A necessidade , criada, de não ver.
QUAL A SUA MIOPIA?
A ausência de visão sobre certos pontos, fatos e pessoas – é isso.
VOCÊ CHORA?
Sim.
QUANDO TERMINA UM LIVRO?
Também.
O QUE ÉA SEXUALIDADE?
O desejo mútuo ou individual de pertencer.
PARA QUE SERVE A BIOLOGIA?
É puramente uma forma de ver a vida, ou uma faceta, uma parte da vida, para qual me dedico.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Não sei o que dizer, acho que meu maior enforcamento, na tal liberdade (risos), seria dizer que devemos nos despertar para a vida, na vida, por meio de livros, filmes, e principalmente fazer o que queremos – espero que eu consiga realmente realizar tudo o que eu quero.

RILKE EM SEU LIVRO, ‘’CARTAS AO JOVEM POETA’’, PERGUNTA AO POETA SE ELE NÃO ESCREVESSE MORRERIA. QUANTO A VOCÊ, MORRERIA SE NÃO FIZESSE O QUE FAZ?
Não sei se morreria, mas sei que não seria completa – não seria eu.
VOCÊ MENTIU?
Sim, para proteger.













Entrevistada: U. Z.

O QUE É MIOPIA?
Um defeito da visão, eu diria num primeiro momento.
Num segundo a interpretação me levaria a dizer que é ausentar-se de um ver, um ver o outro.
QUAL A SUA MIOPIA?
A minha limitação, o limite que minha profissão me impõe.
QUAIS OS PROBLEMAS QUE A UYRÁ MULHER TRAZ PARA A UYRÁ PROFISSIONAL?
Acho que todos, no meu caso minha vida é toda destinada a faculdade, veja você que eu trabalho com o meu marido, e em casa é como se você uma continuação daqui, do meu lado profissional, uma vez que é também em casa que pensamos fatos e soluções possíveis para a nossa profissão (suspiro) .
Bem, acho que o problema é que os alunos pensam que o professor não se preocupa com eles, que não pensam neles, e nada mais me chateia do que ver que eles foram mal em minhas provas, que não conseguiram responder questões essências para uma boa compreensão do conteúdo que eu ensinando, como o que a própria profissão, o de biólogo, certamente exigirá – esse é o problema, por qual sofro, aqui e em casa, ao corrigir as provas, cada uma, levando em consideração tudo o que ali está escrito, e tudo o que talvez pudesse estar, e no entanto não vejo – é frustrante.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Eu só queria ser mãe!
VOCÊ MENTIU EM ALGUM MOMENTO?
Não!


















Entrevistado: W.L

QUAL A SUA MIOPIA?
Para mim não e uma doença, mas sim uma função produzida pela cabeça ondenos permite enxergar a realidade ou ate mesmo a ilusão do nosso ser.
DO QUÊ VOCÊ TEM MAIS MEDO?
Eu tenho medo da solidão, de todos me odiarem e ficar sem ninguém(perder meus amigos).
VOCÊ CHORA?
Eu choro muito pouco, geralmente quando estou sozinho, as vezes quepropus chorar na companhia de outras pessoas utilizaram disso paradizer que sou fraco, geralmente pessoas que descobrir que realmente nãoeram meus amigos de verdade.
O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMO?
Eu choro muito pouco, geralmente quando estou sozinho, as vezes quepropus chorar na companhia de outras pessoas utilizaram disso paradizer que sou fraco, geralmente pessoas que descobrir que realmente nãoeram meus amigos de verdade.
O QUE É O AMOR?
O amor é uma coisa pura, uma emoção que consigo sentir sem querer,quando menos o espero aparece e me deixa feliz, amor e a felicidade.
O QUE É A VIDA?
A vida é uma passagem onde estamos aqui para cumprir uma missão e nãosabemos quando ira terminar, então faço sempre o que gosto, adoro serfeliz e como todo ser humano sofrer.
AMOR É SEPARADO DE ÓDIO?
Eu não acredito nessa separação, pois quem ama quer, quem quer deseja,quem deseja não aceita a perda, a perda trás a frustração e afrustração trás o ódio.
O QUE É SER FELIZ?
Ser feliz pra mim e sentir leve sem pensar em nada, sorri, dizer eu teamo, amigo saudades, isso tudo complementa minha felicidade.
COMO VOCÊ ENCARA O ATO SEXUAL HOMOERÓTICO?
Como um complemento, só me sinto bem completo desta forma de pensar e deser, pois cada um guarda dentro de si uma falta de alguma coisa.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
“Ame a todos como se fosse o ultimo dia, gente viva feliz e faça asoutras pessoas que amam felizes”.
VOCÊ MENTIU?
A minha vida é uma mentira, a mentira para mim não e só uma traição e afalsidade, mas sim não querer enxergar a realidade, eu não queroenxergar então eu já mentir.






Entrevistado: J. R

QUAL A SUA MIOPIA?
A minha miopia e sempre colocar a culpa em mim mesmo e me desacreditar - isso me impde de prosseguir, de guiar-me por nova alamedas. Sempre acho que as pessoas não gostam de mim, não sei ao certo o motivo, mas de alguma forma acabo me afastando de algumas pessoas.
DO QUÊ VOCÊ TEM MAIS MEDO?
Medo? Não sei se tenho "medo". O que tenho muitas vezes é ansiedade, insegurança e falta de desejo. Tenho medo de não sentir mais medo e esquecer que sou - antes de tudo - humano (e preciso ser amado.. blá blá blá).
VOCÊ CHORA?
Por dentro, sempre! Everyday. Minhas lágrimas não correm há anos. A última vez que chorei foi... foi... pelo que mesmo que foi?
O QUE VOCÊ ESCONDE DE SI MESMO?
Escondo a minha dor. Quando isso acontece, saabe, a cura é impossível. A dor deve ser enfrentada, desafiada diriamente. Essa é minha danação, fugir da minha danação, entrementes, ela me persegue, ne alcança e me surra. Caio. Levanto. So I run again and again.. so it goes....
O QUE É O AMOR?
"Ah, se eu soubesse lhe dizer, o que fazer pra tudo mundo ficar junto, todo mundo já estava há muito tempo", como diria o Renato. O amor é o Petróleo do futuro, realmente. Hoje, ele é negociado em agências por pessoas que desconhecem o produto que vendem. Para mim, amor e amizade são as mesmas coisas.
O QUE É A VIDA?
Para ser sincero, não sei o que é a vida. Existo dentro do meu próprio mundo, onde poucos penetram (ou penetraram). Existem dois mundos: um invisível e o inintelígivel. Ambos não se pode tocar, ambos são a vida.
AMOR É SEPARADO DE ÓDIO?
Não! Os dois têm a mesma intensidade, porém usam canais diferentes.
O QUE É SER FELIZ?
Juro que quando eu for, eu te conto.
ONDE VOCÊ SE ESCONDE?
No pior lugar possível: dentro de mim memso. Aqui estou (ou lá, como quiser) estou bem protegido dos outros, mas nunca consiguirei fugir de mim mesmo. Eu queria muito sair da minha concha, mas o mundo lá fora é assustador.
COMO VOCÊ ENCARA O ATO SEXUAL HOMOERÓTICO?
Não tem diferença entre o hetero e o homo. É só uma questão de visão. Quando o que acontece entre dois seres (e apenas dois, nunca mais que isso) é sincero, isso se torna bonito e recomendável. Veja a história de Jean Marais e Jean Cocteau, é linda, de uma beleza indiscritível, seja pelo amor, seja pela admiração recíproca, seja pelo companheirismo. Nem smepre as realções hetero apresentam tudo isso.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Nesse caso sou um nati-morto.
VOCÊ MENTIU?
Aqui? Não! Nunca fui tão sincero. Chega a ser assustador. Deveria reescrever algumas, mas respeito suas intensões e jamais seria insincero contigo, meu amigo.

















Entrevistado: B. A.

O QUE É MIOPIA?
Algo que criamos, e que nos acostumamos a ter, uma ignorância da sociedade.
QUAL A SUA MIOPIA?
Acho que tenho muito a aprender, e por isso somos sempre míopes, e eu não estou fora disso.
POR QUÊ FILOSOFIA?
Na verdade eu sempre gostei, me identificava, e acho que depois de um tempo tive certeza que deveria arriscar, seguir pelo caminho da filosofia mesmo.
VOCÊ CHORA?
Faz muito tempo que eu não choro.
COMO VOCÊ VÊ O ATO SEXUALO HOMOERÓTICO...
Não acho que tenha diferença, eu , pelo menos, nunca vi diferença alguma.
PARA QUÊ SERVEM OS LIVROS?
Acho que para que aproveitemos a vida de outra maneira, ou, ao menos, para que possamos ver a vida de diferentes formas – como em Alice nos país das maravilhas – creio que devemos fazer mais ou menos o que ela faz lá, crescer e diminuir, ver e não ver – como nos pré-socráticos.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Às vezes tenho certeza que as pessoas se enganam com relação a minha capacidade, eu posso supreender sempre.
VOCÊ MENTIU?
Não.


















Entrevistado: M . M

O QUE É A MIOPIA?
O que criamos para nós mesmos, um certo tapar de olhos, igual aqueles usado em cavalos – nós temos nos adestrado, quanto a vida, e por isso quanto a visão.
QUAL A SUA MIOPIA?
Tenho a certeza que o medo é um limite, no qual estou enclausurado, entretanto tenho certeza que faço parte dos adestrado, de uma forma ou de outra.
VOCÊ CHORA?
Nem sempre.
O QUÊ TE FAZ CHORAR?
Bem, um filme, uma música, tudo aquilo que toca um pouco mais no fundo.
COMO VOCÊ ENCARA O ATO SEXUAL HOMOERÓTICO...
Acho que nunca pensei nisso, e se eu não pensei é que certamente, ao menos para mim, ele é uma simbiose.
Quer dizer, eu não o trato como escolha, não o trato como algo relacionado ao outro, acredito, antes, que existe o outro, suas vontades.
Quer saber, é que a gente tem a mania de querer colocar a ‘’pata’’ em tudo, achando que pode isto ou aquilo, e acabamos por perder nosso próprio limite de ‘’poder’’.
É bem aquilo da Clarice Lispector, que ela fala na entrevista, ‘’a gente só quer desabrochar’’.

VOCÊ É FELIZ?
Parece que o remédio de vez em vez faz efeito, e acredito que quando ele faz, eu sou – risos.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Eu gostaria que a partir de agora as coisas tomassem um rumo, ainda que eu não saiba qual o fim.
VOCÊ MENTIU?
Certamente... que não ! (risos).














Entrevistado: J.D.

O QUE É MIOPIA?
A falta de algo.
QUAL A SUA MIOPIA?
A falta de algo a mais.
VOCÊ CHORA?
Ah, sim!
POR QUÊ?
Sei lá, de repente a lágrima insiste em correr pela face.
PARA QUEM VOCÊ ESCREVE POESIA?
Para que eu realmente não sei, e o porquê é tão misterioso quanto.
VOCÊ É FELIZ?
Não conheço muito bem os estágios de felicidade, mas acho que na medida do possível, vou fazendo meus reajustes, e acabo por fim feliz.
O QUE É O AMOR?
Um coisa que eu tempero com as minhas 13 ervas finas.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Tudo tem um ponto e um contra-ponto, pensemos cada um com certa calma.
VOCÊ MENTIU?
Claro que não, meu amigo.







Entrevistado: R. C

O QUE É MIOPIA?
Sei lá, é a gente fugindo do que tem que ver.
QUAL A SUA MIOPIA?
Acho que eu preciso ir ao médico para verificar.
VOCÊ CHORA?
Agora mesmo estou quase chorando, mas não vou chorar na sua frente.
POR QUÊ?
Não sei.
QUAL A SUA MAIOR DOR?
De não ter dito ao meu pai que eu o amava.
ENFORQUE-SE NA CORDA DA LIBERDADE...
Pai, eu te amo.
VOCÊ MENTIU?
Não.



Observação: Tenho que dizer que ele rompeu o medo e chorou na minha frente.

Colaboradores