domingo, 25 de janeiro de 2009

DESPEDIDAS...



(Nevava muito)
-- Tomei a sopa – estava fria por sinal...
(Flocos densos juntavam-se nos cantos inferiores das janelas de madeira)
-- Já lhe disse que tenho de ir?
-- Ainda não...
-- É tarde, muito tarde...
(Neva lá fora – desde ontem a noite enquanto tomávamos chá de amoras sentados a mesa)
-- Chega um dia em que todos nós devemos chorar...
(Tudo é lembrado)
-- Resolvi que esta é a hora de fechar a caixinha com tudo que tenho de nós e tudo do que ficou de nós; num outro momento abrirei já longe de ti. Não quero que veja minhas lágrimas; ninguém deve compartilhar lágrimas!
-- Devemos morrer todos os dias...
-- E renascer todos os dias...
-- Nada me é mais estranho que o ser humano...
(A neve continua lá fora. Uma casinha distante joga baforadas de fumaça pela sua chaminé. Alguém deve estar preparando um chazinho para alguém. Todos quentinhos, reunidos envolta de uma confortável mesa, num lugar longe de tudo, escondido entre árvores secas, decoradas com a neve)
-- Você não vê que estamos perdendo a vida? Não vê que estamos nos esgotando? Nada disso lhe é estranho?
-- E tudo é um olhar de eterna despedida - eu já sabia...
(Inverno)
-- Nada vale a pena, resistir é idiotice, os caminhos entrecruzam-se em um. Todos se reconhecem na morte...
-- A vida só foi uma lacuna indesejada... Voltarei da onde vim...
(O vento sopra, a neve se espalha)
-- Não mais retornarei – Adeus...
(Nevava bastante lá fora)


Por Gustavo Pilizari

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A Solidão da Névoa




E só, servi-me da névoa envolta à pálida pele...
E fiz da bruma minha pele...
Nú, caminhei ao encontro do mar...
Deitado em pedras, respirei a vida...
Senti a molhada terra salgada, a cheiro de embarcação de peixe largada...
E ali fiquei...
E das farfalhadas dos galhos, chorei...

domingo, 4 de janeiro de 2009

sábado, 3 de janeiro de 2009

Entre a compra de ilusões e a realidade que o corrói.

Johnny Dias

Universidade Federal de Ouro Preto.
Instituto de Filosofia, Artes e Cultura.

Eu realmente não entendo. É indignado que começo esta escrita, e o leitor me entenderá ao final, ou melhor, terá uma segunda opção também, aquela que delicadamente chamamos de discordar.
Cheguei com o meu carro, um destes populares, inclusive a sua cor é popular, cinza. Na porta do shopping fui recebido por aquela voz computadorizada, daquelas magnéticas e intrusas máquinas que ‘’gospem’’ o papel do estacionamento.
Entrei. Hoje, muito distante do pagamento, vi várias pessoas, o suficiente para os carros destas ocuparem os três patamares destinados ao estacionamento. Passado uns 20 minutos consigo estacionar, com certo aperto, o meu carro.
Sigo. Subo pelas duas consecutivas escadas rolantes. Não se enganem, leitores, mesmo porque as duas escadas foram colocadas do lado de fora, e passo por elas para poder entrar no shopping.
Consigo. Estou dentro do recinto devidamente poluído visualmente. Sim, subo mais uma escada, até, enfim pode ver as marcadas queridas por todos.
Resolvo. Tenho que tomar algo. Boa, um sorvete seria bastante interessante.
Caminho em direção ao Mac Donald’s, e fico dividido entre pedir um sorvete com ou sem gordura trans. Esqueci, eles não tem o sem gordura trans.
Sinceramente, não entendo que uma marca tão boa, como a rede Mac Donald’s não tenha um sorvete com 0% de gordura trans – esta na moda.
Aceito o rico em gorduras, o que no fundo dá um sabor, mesmo porque eles estão preocupados com um cliente tão presente como eu.
Resolvo, por fim, andar tomando o sorvete.
Uma senhora, sentada com uma linda blusa escrita em inglês ‘’ beach’’, observa-me com certo desprezo.
Eu a olho, e por fim ela desvia os seus olhos oblíquos.
Trago novidades. Agora os corredores têm nomes. No que estou agora, por exemplo, encontramos o lindo nome de Walter Benjamin.
Vamos ao ponto, o que me trouxe aqui foi uma promoção. A possibilidade de trocar meu celular gratuitamente bastava vir e pegar, para tanto, segundo o atendente, eu teria que apenas mudar o meu plano de $19,90 para o de $ 40,00. Uma boba mudança. Eu a fiz.
Claro, também sei, sai ganhando. Para você ter uma idéia, caro leitor, o meu celular antigo não tinha câmera digital e nem MP3. Já agora, tenho tudo, na palma da mão. Incrível.
Continuei pelo corredor Benjamin, até me deparar com uma bela livraria. Devo dizer que além de bela, a livraria virou ponto de encontro. É de costume me reunir aqui depois do trabalho, para conversar sobre mulher e futebol.
Lembrei, na hora, e para minha sorte, que me filho pedira um livro.
Pego na mão Paulo Coelho. Sinceramente leitor, eu não consigo comprar isso para o meu filho. Contudo, logo ao lado tem um que desvenda os mistérios da pedra filosofal, numa magia e obscurantismo magníficos. Tem, ainda, muita fantasia. Criança precisa de fantasia. Sou um fiel escudeiro da Disney, por isso.
Bom passeio. Agora: casa!
Como é bom “a gente ficar na casa da gente” – o nosso velho e belo recanto.
Devo confessar que a falta de família tem me machucado um pouco.
Separei de minha mulher faz 3 meses, e meus filhos partiram com a mãe.
Sei lá, mas eu vou te confessar um fato, leitor desconhecido, a solidão é uma companheira bastante larga.
Termino comendo comida japonesa, como Woody Allen. É verdade leitor, li uma entrevista na qual Allen dizia que o sucesso não muda nada. Para tanto ele dá um exemplo, onde, quando estava no auge, de nada adiantava saber que todos falavam dele e viam os seus filmes, mesmo porque a menina da frente de seu apartamento não quis sair com ele, e no fim ficou como eu, terminou comendo da sua caixinha japonesa.
Senhor, por favor, insira o cartão na máquina. O shopping agradece a sua visita.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

ANA

Ana.
Ana, é impossível voltar.
Esta tua vontade, sim: insana!
Ah, Ana,
já teve a audácia de violar o arame farpado,
aquele que diz: não passe, não rale.
Tantas vezes Ana, cavucou a terra na procura
profana do diabo, a quem daria a mão.
Fez os ovos cairem no bonde,
como quem quebra almas frágeis.
A culpa é sua.
Quis amar irmão,
quis ter pacto,
quis ser o que nunca foi.
Profana!
Você é o dêmonio,
peste que prova barata.
Não Ana, estou errado,
você queria mesmo é a alma do outro,
quer plasma,
você é gata comungando a placenta,
é cadela no cio.
Ana, por quê?
Não faça isso.
Poderia amar teu irmão.
Poderia ocupar a cadeira da mesa,
aqui de casa.
Mas, não!
Você quer o errado.
O câncer na pele.
O solo infértil.
Outra?
Outra como ti.
Outra contigo?
Como outra?
Seus lábios vermelhos.
Intenso.
Contudo, quer violar o útero.
Não aceito seu modo de ser.
Carrega uma Lispector em seu ser.
É isso,
Eu não deveria te deixar ler esta mulher,
desde então quis beijar o proibido.
É o proibido.
Você enfrentou a bíblia.
Herege.
Fogonão te queima, Ana.
Seu Homoerostismo vulgar,
Cruel.
Cravou em mim, o quê?
Gota d`água.
Voce veio para ser: separação.
Não quer regra.
Um dia... perde o que tem ganhado.
O pior de tudo
é ter coragem , Ana.

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