quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

São Paulo





Olá queridos Leitores, postarei aqui a primeira parte do meu texto sobre São Paulo.
Espero que gostem.

Johnny D.



>Uma explicação desnecessária
Acho que muitos textos já cansaram o assunto. Não acrescento muita coisa às suas referências e inferências, sábio leitor. Contudo, afirmo o valor de meu escrito justamente no que lhe cabe, qual seja, ser o meu ponto de vista sobre São Paulo. Reafirmo o valor do escrito ao propor a ti, fiel leitor, que caso não te agrade, pago-te com um piparote e até breve.
Deveras minto, porque nunca escrevi um texto tão ousado, e se o faço agora é por um motivo que é mistério inclusive para mim.
Talvez o papel de meus escritos, quando dobrados algumas vezes, ouse ocupar a função de sustentar uma mesa, que de banda, já não se agüenta mais.
Quero que me desculpe os frágeis, se os causar algum transtorno somático.
Caso caiba alguma verdadeira qualidade ao exposto abaixo, que insisto em chamar de texto, seria justamente aquela, que sendo vertente contemporânea, preza-se por um trajeto contrário ao romantismo, ao expor o lado sujo de cada coisa, como numa pintura, onde se mostra os corpos com seus defeitos.
Chego a pensar que este meu escrito é como um mictório de Duchamp, mas diria, ao contrário dele - Isso não é um mictório.
Johnny D.

- Metrô
Um barulho estranho, um sonho na realidade
Como bichos sedentos, jogam-se sobre o ferro, destinado às suas mãos, e ocupando insanamente o lugar que lhe cabe naquele recanto.
Mistura de violência velada e necessidade de chegar.
Cada olhar, uma mistura estranha de querer identificar, sem tempo de fazê-lo.
O apito do metrô parece que anuncia a realidade a ser pisada.
No meio fio, entre a porta de entrada, sendo a mesma de saída, um espera o apito, para correr, e o que se encontra atrás deste um, espera que ele corra, para que a porta liberada seja também a pronúncia da ida – confusão em minha escrita, deriva da oclusão do que se mostra.
Ah, digno leitor, tudo esta depressa.
Aproveitam, a cada estação, para deliciarem-se no que chamo de sonho instantâneo – rápido, uma sesta truncada, esquisita, necessária.
O barulho do andar do metrô – ferro no ferro, faísca, grito prolongado, subindo uma oitava, descendo meia oitava – titubeando cá e lá.
A cada estação, um nome a descobrir, pessoas, e tantos chapeleiros malucos, como os de ‘’Alice no país das maravilhas’’.
Mentira, leitor! Já não se pode descansar no metrô, há muitas televisões em cada vagão, todas dando notícias.
Plim-Plim-Puf!

- Violência.
Vi uma lista de mortos. Abaixo da lista tinha um link devidamente disposto, anúncio de coroa de flores.
João M. C, morto com 13 tiros pela polícia do Rio.
Maria. A. S, morta por um bandido quando saia de casa.
Adriano. S. A, policial, morto com 5 tiros na cabeça, por uma quadrilha.
Rafael P. T. S, estuprou a mãe e degolou a empregada.
Flávio S. B, homossexual, morto e esquartejado, por 3 universitários.
Gabriel M. B, morto em trote no primeiro dia de aula. Gabriel queria ser médico.
Clarice. M. R, vítima de bala perdida.
João B. P, morto, picado em pedaços, e queimado no quintal de sua casa. O agressor? Sua própria mulher.

Até quando vamos ouvir tais relatos?
Este é o museu dos mortos, sendo o último epitáfio o grito da dor ‘’pré-morte’’.
Não adianta pedir amor ao algoz, ele não te ama.
Até quando escolheremos as nossas vítimas, para asfixiá-las, esquartejá-las, queimá-las?
No tempo de cerca de 200.000 mortos por dia, o caixão ficou caro, e prestar os últimos serviços aos mortos é lema de dignidade.
Leitor, caso queira, eu passo o site que vende a coroa de flores.

- Rua Augusta.
* Adendo para os que queiram pular esta parte
Leitor, pode pular este meu parecer sobre a rua Augusta.
Melhor! Eu imploro para que pule.Não quero que veja o que escrevo.
Vai, eu sei, você vai ler.
Vai!
Leia e fale que por fim não deveria ter lido.
Um dia Clarice Lispector em sua obra, “Via crucis do corpo”, resolveu por falar de homossexuais, dos bêbados, de sexo...
Clarice foi punida, quem dirá eu.
Ai de mim! Ai de mim!

Tudo é colorido na rua Augusta.
Rua Augusta é pura novidade.
Num canto direito um sofá em forma de boca gigante. Sentado nele uma linda mulher, com cílios postiços e um olhar de convite.
Tem farmácia, bares e gritos.
Tem um ótimo café, numa galeria requintada.
Pela noite, já bêbado, passo e sou convidado para adentrar a casa de show.
Quem me convida? Um segurança na porta, dizendo que lá encontrarei cerveja e ‘’sexo gostoso’’.
Homens se beijam, mulheres se agarram, homens beijam mulheres, mulheres agarram homens.
A rua Augusta tem extensão, é tanta canto revelando charme e tensão.
Cor azul, rosa, anil.
Há quem fale de livros, outros discutem Mozart e Gregório de Matos.
E por falar em Gregório de Matos, você já leu algum livro dele, leitor?
Rua augusta é como o pedido que Gregório faz a deus, quando sente o pecado. Diz Gregório para deus que sabe que pecou, mas, que, por favor, o deixe pecar mais um pouquinho.
Não só de sexo vive qualquer pessoa.
Promiscuidade não pertence a nenhuma opção sexual, isso porque, não existem opções sexuais.
Opção parece com um acordo, no qual os interessados sentam-se à mesa e decidem que querem ser isso ou aquilo.
Na sexualidade não há opções.
O diferente um dia será entendido.
Por enquanto, fiquemos com a rua Augusta, e com os seus homossexuais e heterossexuais. Ouvindo gritos, risadas, e sempre o olhar chamativo das mulheres, sendo algumas delas devidamente pagas.
Alguns chamam este descrito pedaço da Rua Augusta, o lado podre. Desculpe se concorda fiel leitor, mas gosto deste pedaço da Augusta, e também sei que um dia nos esbarraremos por lá.
Rua Augusta é paradoxal, ao passo que é globalizada.É cenário dos pequenos grupos que se formam - uma defesa, um distorcer – ,estamos diante da perda da identidade, buscada a custo de cabelo liso, roupas pretas, pircing, tatuagens, lápis nos olhos...
Por fim, a rua do tudo pode, talvez não possamos tanto assim, quando a decisão é por não colocar etiqueta em tudo. Você entende, não é Drummond?

[...] Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
Drummond



- 25 de Março.
Tudo é engraçado por lá.
Tem um sapinho que pula, e é isqueiro
Tem uma pequena aranha, que é abridor de cerveja.
Tem um negócio que quando soprado dá um som terrível, insuportável mesmo.
E grita um no meu ouvido, e o outro também.
Ouço senhor compra aqui e ali.
Big bang das mercadorias, por toda parte, em todos os cantos.
A tensão é o principal ingrediente, porque de repente cada qual saca de sua mercadoria e começa a correria.
Cai brinquedo. A madame chick que comprava, sem saber o que fazer, larga a sua bolsa importada. E cego que até então não via, dana a ver, e principalmente a correr. Os de muleta as largam no canto, e bota os dois bons pés na estrada, não esquecendo o dinheiro arrecadado.
A 25 me lembra Benjamin. Isso mesmo, leitor de memória curta. Ou melhor, não! Não estou me referindo a Benjamin Button, e sim ao Walter Benjamin.
Walter Benjamin escreveu um famoso texto, ‘’ A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica’’, onde, como diz o título, trata da reprodutibilidade. E nesse caso, a 25 me faz pensar em como Benjamin ficaria assustado em ver que hoje é possível achar Mona Lisa atém em papel de balas.

Museu da Língua Portuguesa.

O jogo lingüístico.

Tudo em clarão, palavra que vem do tupi, mistura aqui com o alemão, ajunta com o holandês, migra com o prefixo grego, e destina-se ao ajuntar-se com o sufixo latino.
Museu da Língua: falada, corrida, língua esquisita do povo, língua linda do povo. Parece melodia, muda com o clima, um lá vira dó e um fá lá é sustenido. Passa o Rio Grande , São Paulo, Minas e o barroco
Eu posso tudo no museu. Bato na palavra – e junto, colo, abuso, pego uma PNEUMOULTRAMICROSCÓPICOSSILICOVULCANOCONIÓTICO da lava da palavra vulcão.
ponto de exclamação, interrogação...
eu vejo Rosa, Lispector toma café. Baleia sonha com as preás.
ramos, Graciliano, guimarães.
abro os olhos, reviro, remexo, translúcido objeto que é a palavra.
dor tem gosto amargo, quando ouso lamber suas entranhas.
museu da língua portuguesa de drummond...

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)


a palavra cai nas paredes .a palavra nasce do chão. Rego a Palavra. crio, creio, crivo, clave, cromátide, cromatina, creolina, creme, crepe, coisa...
palavra-mundo, pentera fundo no mundo que é palavra penetra sem vírgula sem cabo sem medo penetra o travessão.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
palavra que caí como água no chão seco do sertão do todo do mundo do lugar comu-nenhum.
Não eixste msuseu da lgingua e sim msuseu de tdodas as lginguas.Com a lgingua eu psosso tudo.

e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
"Trouxeste a chave?"
(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

ESCOLHA...

Por Gustavo Pilizari




(num beco entre paredes descascadas e altas chove. Duas pessoas em trajes pretos seguram dois guarda-chuvas pretos e conversam:)

-- Quanto tempo eu tenho?
-- 789 mil horas – 90 anos, para ser mais exato...
(um sussurro trêmulo...)
-- E o que eu faço?
-- Qualquer coisa – você é livre!

(num beco entre paredes descascadas manchadas de sangue e altas chove... Uma pessoa em traje preto segura dois guarda-chuvas e não conversa...)

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